quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Como atravessar a rua com um rinoceronte?


O alfabeto é um meio de institucionalizar o grau zero das classificações. R. Barthes



Não há duvidas de que um rinoceronte seja um animal. Mas ele é um animal? Ser um rinoceronte é coisa seria. Ele não trabalha numa empresa multi-nacional, tampouco é um empregado do estado, ou um reformado, só recorre a terra para procurar sua comida. Seu andar lento e pesado produce-lhe calos, mas não é para ficar nervoso: os calos fazem um sapato ao estilo Nike, um sapato confortável, durável, e seguro, além disso poupa-se de ir ao servicio de podologia. Em noites de reflexão filosófica, o rinoceronte, pergunta-se, o que é ser um animal? Ele tem duvidas sob esta pergunta, e a duvida acresenta-se quando pode olhar á formiga levar uma folha três vezes mais pesada o que ela, então ele se diz a se mesmo: se a formiga se move como eu, o porquê o chamam insecto? Eu sei que há diferenças entre os animais e os insectos no que faz as funções e formas, mas para mim - se diz com o cenho carrancudo-, a palavra animal tem o origem na palavra anima, por dizer de outra maneira, o que tem um alma, ou para dizer melhor o que está animado, um organismo que se pode mover e actuar. O rinoceronte pensa e pensa, não tira conclusões, mas ele tende a pensar que todo organismo que se move e tem uma função é um animal, nesta categoria estão incluídos: as bactérias, os vírus, os vegetais, os fungos e parasitas, os insectos, e o mais o menos dos animais "o ser humano".
Numa noite fria, muito fria, as colchas me davam um calor de ninho, mas não tudo era confortável,sentia um prurido e moléstia em minha orelha direita, não tinha certeza de que o prurido era dum objecto estranho ou mesmo da cerumem. A noite percorria, havia momentos em que não podia dormir e outros em que abria um olho, ainda assim o prurido continuava. Mesmo assim, a noite flutuava, quando abria um olho percebia que o dedo mais grande do pé esquerdo ficava á intempérie. Depois da álgida noite acabar, acorde-me, e ele estava lá: seus quatro pés sob meu quarto; com seu corno olhando ao céu; e uma mirada terna, ingénua, como se estivera a dizer me, estou aqui! Isto chevou-me a perguntar: como atravessar a rua com um rinoceronte?

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