quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Porque não sou anarquista

Com o Nani,
a pessoa espetacular que teve a ideia de criar este blog, tenho muitas coisas em comum, e talvéz algumas das nossas divergências sejam uma mera questão de definição.
Gostava de partilhar covosco uma discussão acerca duma destas divergências, e explicar a razão por que não me defino anarquista.

A autoridade na vida privada, no trabalho e na sociedade, é, na grande maioria das situações, uma consequência nefasta da falta de inteligência, da falta de empatia, e de outras fraquezas humanas. Porém, existe uma dose não tóxica de qualquer coisa, também de autoridade. Eu não tenho a certeza que uma sociedade desprovida de qualquer forma de autoridade seja possível e desejável (claro está, também não tenho a certeza do contrário). Provo prazer nas poquissimas vezes que vejo os polícias fazerem multas às pessoas que desrespeitam as regras mais básicas da convivência, por exemplo estacionando o seu carro no lugar mais chato imaginável, pois infelizmente as sanções, na situação acima indicada e em outras bem mais graves, são necessarias
. Mas o ponto principal é que estamos tanto longe duma sociedade sem autoridade, que falar dela não adianta nada. Parece-me mais razoável puxar para avanços graduais. De facto, é a única coisa que temos a possibilidade de fazer concretamente.

Também não me digo revolucionário, e não só por que a revolução não me parece praticamente viável na nossa altura. A nossa sociedade tem muitas falhas, muitas delas são horríveis, e merecem a nossa mais completa indignação. Porém, as falhas da nossa sociedade (devidas basicamente a prepotência e ao egoismo) são as falhas da nossa natureza humana.
Com isto eu não quero dizer que sejam inevitáveis. Com certeza é possível uma sociedade que encoraje todas as pessoas, desde miudos, a terem uma atitude mais empática. A natureza humana inclue muitos aspeitos e o seu contrário. Temos a possibilidade de desenvolver a nossa parte melhor. Hoje, ao contrário que em muitas epocas passadas, podemos trabalhar para que o sistema seja mais justo, sem lutar para destruí-lo.
Não difendo atitudes revoluciónarias do tipo nós contra vocês, os rebeldes contra os opressores. Acho que esta forma de encarar a politica partilha com o racismo,  o nacionalismo, o classismo e por aí fora, uma falha brutal, ou seja a lealdade ao próprio grupo em detrimento da confiança na própria sensibilidade. Há quem acredite que a causa de todos os maus seja a religião. Eu, ao contrário, acredito que a causa de muitos maus sociais seja, mais em geral, o excesso de sentimento de pertência a um grupo. Neste sentido o sentir-se anarquista, ou atéu (como eu sou), ou qualquer outra coisa, não é necessariamente menos perigoso do que sentir-se católico, branco, ocidental, musulmano ...

Acredito numa
escolha pessoal e politica ao mesmo tempo: o compromisso constante para que na nossa vida, e em nós próprios, prevaleça o sentido de justiça.
Mesmo numa associação com fins politicos supostamente ou verdadeiramente libertários, haverá sempre alguém que se queira impor como o lidér, pois a causa dos maus do mundo não é o capitalismo, ou o estado, ou a igreja, mas sim a prepotênci
a. É preciso vigiar contra ela em qualquer situação.

2 comentários:

  1. O progresso na perspectiva anarquista
    (ou seja, a evolução da Humanidade segundo a perspectiva anarquista):

    Tudo é um (Abrãao) – nas sociedades da Antiguidade

    Tudo é pecado (Jesus) – durante o Império Romano

    Tudo é económico (Marx) – no século XIX

    Tudo é sexual (Freud) – na passagem do século XIX para o século XX

    Tudo é relativo (Einstein) – no século XX e XXI

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  2. Respondedo ao comentário do ToZé ....
    De facto a relatividade é um conceito interessante.
    Pelo menos a partir de Galileo, sabemos que o espaço é um conceito relativo. Isto é, uma senhora sentada num comboio em viagem, acha que não se está a mexer, enquanto eu, que vejo o comboio passar em frente de mim, acho que a senhora se está a mexer tal como o comboio. Os dois temos razão.
    Einstein descobriu que, se o comboio viajar a uma velocidade próxima àquela da luz, o meu relógio e o da senhora, mesmo que ambos correctos, indicam horas diferentes.
    Será que a senhora é anarquista?
    Eu acho que o bilhete dum comboio que viaja a uma velocidade próxima àquela da luz, deve ser bastante caro.
    Pergunto à senhora: se és assim tanto anarquista, por que é que, em vez de gastar tanto dinheiro para o bilhete, não ofereceste cervejas ao Pedro Ribeiro?

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