quinta-feira, 3 de março de 2011

Escalada dos preços dos alimentos


Os preços dos alimentos atingiram o máximo histórico, disparando 70% em comparação com os valores de Fevereiro do ano passado! Não é difícil de imaginar o quanto prejudicial é nos países em desenvolvimento, onde as populações são mais vulneráveis a estas oscilações de preços porque cativam mais de metade do seu rendimento para a compra de alimentos.
Pode-se explicar que o aumento contínuo do preço dos alimentos, impulsionado pela subida das matérias-primas agrícolas, é uma das causas dos movimentos de revolta em curso no Médio Oriente e no Norte de África, já precedida pelas inúmeras manifestações em vários países africanos e da América latina durante o ano de 2010. Segundo o Banco Mundial, a subida do preço dos alimentos fez cair 44 milhões de pessoas em todo o mundo no limiar da pobreza extrema entre Junho e Dezembro. Se tivermos em consideração que o limiar da pobreza extrema é definido como o gasto de 1,25 dólares por dia e por pessoa e os últimos números do Banco Mundial indicam que 1,2 mil milhões de pessoas em todo o mundo estão nesse limiar, podemos percepcionar que existe uma crescente grave crise alimentar.
Esta subida constante, deve-se a uma combinação de factores: má colheita numa parte do mundo supõe uma pressão sobre o mercado, o qual envia sinais negativos aos especuladores. Estes, então, começam a comprar e os preços disparam. Bem como a grande procura para os agrocombustiveis e o facto de que 1 terço da produção mundial de cereais ser directamente dirigida para a produção agropecuária.
Para não esquecer que a recente subida do preço do petróleo faz prever mais um impulso na escalada de preços no mercado alimentar.

Mas esqueçam os especuladores e os agrocombustíveis. Inúmeros estudos e observações, levam a crer que a principal causa da contínua crise alimentar são as corporações do sector, porque espremem a agricultura. Lembremos que, depois das farmacêuticas, as empresas do ramo alimentar são as maiores do mundo.
Nos últimos anos a procura mundial por cereais e a produção parecem estar equilibradas. Não há indícios de uma iminente crise alimentar. Quase mil milhões de pessoas passam fome, outros mil milhões sofrem desnutrição crónica e mais mil milhões de pessoas estão obesas.
Cada vez é mais difícil para os agricultores sobreviverem devido aos baixos preços e às flutuações dos mercados. É um paradoxo! Para os consumidores é cada vez mais caro e os produtores não podem recuperar o investimento.

Então quem fica com a diferença? Os impérios da comida.
O mercado está cada vez mais dominado por conglomerados comerciais industriais como Ahold, Nestlé, Cargill e muitos outros que controlam a produção, o processamento, a distribuição e o consumo de alimentos. Eles manipulam os mercados e espremem a riqueza do campo. Nesse contexto, pequenos desequilíbrios nos mercados traduzem-se em grandes flutuações de preços. Os impérios não costumam controlar os recursos, mas as redes.
Os produtores e consumidores dependem dos seus pontos de venda ao qual os padrões e os preços são fixados por estas corporações. Pedem aos governos que não distorçam os mercados e liberalizem o comércio, mas são os impérios que os distorcem. Se lhes convém aumentar o preço do milho, do frango, do feijão ou das flores nos países pobres, fazem-no, mesmo que a população morra de fome.
Face a estas criticas, é usual alegar que a procura cria milhares de empregos e rendimento para as pessoas nos países exportadores, melhorando as condições de trabalho e o padrão de vida.
Mas este sistema imperante na realidade é criador e cooperante das consequentes perturbações ecológicas de grande escala, da exploração laboral, da desigualdade social e além de que nunca é promotor de estabilidade, pois a produção constantemente se desloca para onde o beneficio/custo seja mais lucrativo.
No entanto, os supermercados converteram-se nos actores mais poderosos do império dos alimentos, passaram a ter um papel muito forte como guardiões de consumidores e da indústria de alimentos processados.
O poder dos impérios alimentícios é preocupante, porque só lhes interessa o fluxo de dinheiro. Têm de pagar as suas dívidas, contraídas para adquirir outras empresas e monopolizar grandes segmentos da cadeia de fornecimento mundial. Expansão é a palavra-chave.
Os impérios dos alimentos preferem a agricultura industrial em grande escala pelos seus resultados previsíveis e padronizados. As fazendas industriais costumam ser menos produtivas e menos eficientes do que as pequenas que substituem, e também são extremamente vulneráveis às variações económicas.
As corporações dependem muito da estabilidade, da disponibilidade de crédito e do crescimento contínuo. Quando isso desaparece, quebram. Os Governos e investigadores apressam-se em criar inovação tecnológica para melhorar a produção, em especial nas nações em desenvolvimento. As suas soluções simplistas são quase autistas. Não se dão conta de que os sistemas com tecnologia de ponta são a razão de a competição prejudicar os produtores.
Felizmente, cada vez mais agricultores reconhecem que a sua actividade é algo além do que produzir mercadoria. Pensam assim a partir de um enfoque integrado e multifuncional e tornam-se menos dependentes de recursos artificiais.

1 comentário:

  1. Não será uma boa altura para meditarmos sobre uma possivel greve de fome, ou um jejum colectivo?
    Quando consigamos viver sem comer, dobramos um dos cabos das tormentas das necessidades vitais...e por conseguinte outro e mais outro.Entre eles... um abraço
    Gostei do que vi

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