A obra de Gil Vicente traduz um incomodo perante os modos de representação política vigentes. Transporta uma desilusão profunda sobre a possibilidade de mudanças realizadas por meio de lideranças formalmente constituídas, denunciando um esgotamento que, em muitas ocasiões, tem levado ao confronto violento. No seu trabalho, Gil Vicente não busca a confusão entre arte e crime, mas antes a substituição do crime como acto pela criação de sua imagem explícita. A exposição Inimigos, patente desde sábado na Bienal de São Paulo, o artista assume, em desenhos realistas feitos em carvão sobre papel em escala natural, o papel de assassino de diversos dirigentes políticos, os quais, actuando em âmbitos geográficos diversos, são portadores de visões distintas, quando não conflituosos, do mundo. Gil Vicente representa o momento imediatamente anterior àquele em que “mata”, com faca ou revólver, de frente ou pelas costas, o presidente Lula, Fernando Henrique Cardoso, Ariel Sharon, o Papa Bento XVI , G .W. Bush, a Rainha Elizabeth, entre outros. O amplo espectro de orientações ideológicas dos retratados sugere que o que está em jogo é menos a afirmação de uma causa específica e mais o repúdio simbólico a qualquer forma de exercício institucionalizado de poder.
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