quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O ladro negro do chocolate

Agora que se aproximam as festividades natalícias, somos tentados por aquelas cintilantes vitrinas repletas de apetitosos chocolates nobremente repousados em fino veludo e cuidadosamente envoltos em mantas douradas, propagandeados pelos constantes anúncios que nos apelam a um mundo de espasmos orgásticos  que se derrete lentamente na boca enquanto nos derretemos em felicidade, prazer e quiçá, sensualidade. Tudo feito à sua medida, e com baixo nível de calorias!
Mas a verdade por detrás deste mundo de fantasia não é nada doce! Na Costa do Marfim, a origem de quase metade do cacau do mundo, e de 70% do cacau das grandes marcas de chocolate, centenas de milhares de crianças trabalham ou são escravizadas nas quintas de produção do cacau. Num país assolado pela miséria e uma receita média na produção do cacau que varia entre 20 a 70 euros por ano, os produtores não têm alternativa senão a desumanização da exploração de crianças para as tarefas árduas. Muitas vezes são as familias que vendem os seus filhos aos produtores por 35 - 70 euros na esperança de que as crianças vão fazer algum dinheiro por conta própria. Mas a maioria destas crianças provêm dos países limítrofes, Mali, Togo, Ghana, Niger, Nigeria e Burkina Faso, traficadas ilegalmente, além de existirem inúmeros relatos de crianças raptadas.

Cerca de 286.000 crianças entre as idades de nove e doze foram relatadas dos últimos 3 anos como trabalhores nas quintas de cacau na Costa do Marfim vindas em situação consequência do tráfico de crianças. Infelizmente, além destas crianças estarem muitas vezes em risco de ferimento com facões e exposição a pesticidas prejudiciais, estas crianças trabalham 80 a 100 horas por semana e frequentemente fazem pouco ou nenhum dinheiro e são regularmente espancados, esfomeados e exaustos. A maioria destas crianças nunca sequer teve nem terá provado o sabor do produto final que resulta do seu sofrimento.

Como os consumidores podem saber se ou não os produtos que consomem são produzidos por escravos? Cerca de 9.3 mil milhões de euros anuais da indústria de chocolate é dominado por duas empresas: a Hershey's e M & M / Mars. Ambas as empresas usam principalmente o cacau da Costa do Marfim.
Mas a enormidade dos lucros da Nestlé (mais de 47 mil milhões de euros em vendas anuais) e a sua posição alavancada na indústria de alimentos sublinha a culpabilidade da empresa e a capacidade de garantir um salário justo e práticas de trabalho justas.

Essas empresas continuam a negar não só a responsabilidade para as condições nas quintas que fornecem o cacau, como negam aos produtores o único aspecto do processo de produção que certamente podem controlar e o qual é o fulcro do problema,  - um preço justo.
Eis a relação:
Preço de venda de agricultor para distribuidor nacional na Costa do Marfim: 0.10-0.15 euros por kilo cacau;
Distribuidor vende ao preço de mercado mundial regulado Wall Street e bolsa de Londres: 1 euro por kilo
A cada kilo de cacau corresponde cerca de 40 barras de chocolate ao qual já sabemos muito bem o preço de venda final.
Facto: Essas empresas preocupam-se mais com os seus lucros gigantes do que serem escravos a produzirem o nosso chocolate.

A Mars, Hershey's e Nestle argumentam que é impossível para eles controlar as práticas de trabalho dos seus produtores, mas um grande numero de outras empresas no sector já exemplificaram essa prossibilidade. Tais como: Clif Bar, Cloud Nine, Dagoba Organic Chocolate, Denman Island Chocolate, Divine, Gardners Candies, Green and Black's, Kailua Candy Company, Koppers Chocolate, L.A. Burdick Chocolates, Montezuma's Chocolates, Newman's Own Organics, Omanhene Cocoa Bean Company, Rapunzel Pure Organics and The Endangered Species Chocolate Company.

Estas empresas que comercializam o chocolate do comércio justo, garantem que os agricultores recebem um preço justo pelos seus produtos e que a sua força de trabalho não é composta por crianças ou escravos.
Ao contrário de livre comércio, o comércio justo é projectado para fornecer trocas justas com os agricultores e artesãos. O comércio justo garante uma vida melhor através de fornecedores com dinheiro suficiente para saúde, educação para seus filhos, e métodos de produção sustentáveis.
Saiba onde vem o chocolate de forma a garantir que ele foi produzido de uma forma justa por um preço justo. 

Por fim recomendo o documentário The Dark Side of Chocolate, que relata as continuadas alegações de tráfico de crianças e trabalho infantil na indústria internacional de chocolate.
Enquanto nós apreciamos o gosto doce do chocolate, a realidade é muito diferente para as crianças africanas. Miki Mistrati e Roberto Romano iniciam uma investigação camuflada e verificam se estas alegações do trabalho infantil na indústria do chocolate estão ou não presentes hoje.
 
The Dark Side of Chocolate
 
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO3gYqveo_Y0WGuGdq18bxnJCav9iFF6h4yoj8UxLRy0opAudk1MrqzhHwNSdUHjWqJ7p17uCfBD5g7dAD5adXV7C2w6FzlRy-6eTHQF_BBZB8RzrMDFupr0xDeyHnDh40wr7kZnWS/s1600/the+dark+side+of+chocolate.jpg
Miki Mistrati, U Roberto Romano,
Dinamarca, 2010, 43 min.

 

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